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Lô Borges:

'Me sinto como

um pavio aceso'

Cantor e compositor mineiro lança “Tobogã”, um álbum cheio de boas companhias — como toda a trajetória dele

por_Eduardo Fradkin do_Rio

Cantor e compositor mineiro lança “Tobogã”, um álbum cheio de boas companhias — como toda a trajetória dele

por_Eduardo Fradkin do_Rio

Nos 52 anos de carreira de Lô Borges, uma coisa nunca mudou: as boas companhias. Sua estreia, em 1972, foi ao lado de Milton Nascimento e Beto Guedes no antológico disco "Clube da Esquina". Desde então, gravou com músicos do naipe de Caetano Veloso a Samuel Rosa, e teve composições gravadas por gigantes como Tom Jobim e Elis Regina. Não surpreende que o texto enviado à imprensa sobre seu novo disco solo, "Tobogã", lançado no fim de agosto, seja assinado pelo ex-titã Charles Gavin. O baterista conclui o release em tom opinativo: "É um trabalho atemporal, sensível e emotivo, produzido com delicadeza e inspiração.”

Com Fernanda Takai, uma das muitas boas companhias da vida de Lô

O álbum começa com a participação especial da cantora Fernanda Takai, na faixa "Tobogã". Mas há outro nome que chama atenção nos créditos do disco: Manuela Costa, uma fã que virou parceira. Médica com talento para a poesia, ela criou as letras das 12 canções.

Como você conheceu a Manuela Costa e começou a trabalhar com ela?

"Foram obras do acaso as duas parcerias mais emblemáticas da minha carreira", diz o artista

: Eu a conheci como uma fã, em 2005. Ela estava visitando um lugar que fãs do mundo inteiro visitam quando vêm a Belo Horizonte, que é a casa dos meus pais, do lado do Clube da Esquina. Meu pai deu a ela um livro (de autoria) dele, chamado "Tobogã", e o título do disco acabou sendo uma homenagem a ele. Depois disso, eu me encontrei com a Manuela quatro ou cinco vezes, nestes quase 20 anos. Ela me mandava e-mails com poemas dela. Em 2023, comecei a me interessar mais por esses poemas. Foi um ano em que eu optei por fazer menos shows e ficar mais em casa. Ela nunca tinha me pedido para musicar um dos seus poemas. Um dia, eu falei: “vou te mandar uma música, e você faz uma letra. Se ficar legal, a gente pode se tornar parceiro”. Foi uma coisa improvável.

Algumas das suas parcerias mais importantes surgiram de maneira mais improvável ainda, não? É verdade que você conheceu o Beto Guedes andando de patinete na rua, e ofereceu um álbum de figurinhas em troca do brinquedo dele? O encontro com Milton também foi uma coisa inusitada, não?

Eu nasci e morei no bairro de Santa Tereza (em BH) até que, em 1962, nos mudamos para o Centro. Com dois meses morando no novo endereço, fui descer a escadaria do prédio e dispensei o elevador, pois tinha 10 anos e quis escorregar de bunda pelo corrimão. Fui comprar pão e leite, quando escutei o Milton tocando violão. Ele nem era compositor na época. Se eu tivesse pegado o elevador para descer os 17 andares, talvez nunca o tivesse conhecido. Dois ou três meses depois, andando pelas ruas, passa um menino com uma patinete. Eu me encantei pela patinete, e esse menino era o Beto Guedes. Naquela época se fazia muito escambo, né? Eu dei a ele uma coleção de moedas, e não um álbum de figurinhas. Mas, se ele não estivesse com a patinete nesse dia, eu não teria parado para falar com ele. Então, foram obras do acaso as duas parcerias mais emblemáticas da minha carreira.

"A minha loucura é interior", resume

Você acredita em destino ou em algum tipo de misticismo?

Preciso de muito pouco para compor. Não preciso do mar nem de drogas. Só preciso de vontade.

Lô Borges

Não... eu acho que foi o acaso. Foi uma conjunção de astros... acho que era o mapa dos céus naquele ano de 1962 que me botou frente a frente, por obra do acaso, com duas pessoas que foram fundamentais na minha vida.

Então a explicação não é só o acaso. Tem uma pitada de astrologia aí.

(Risos).

Você já fez uso de LSD e já morou perto do mar (em Piratininga, Niterói-RJ). Sente falta de uma coisa e de outra?

Na época do "Clube da Esquina", quando eu tomei LSD e fumei maconha, não fiz nenhuma música sob efeito de LSD ou de maconha. Nunca criei nenhuma música sob efeito de álcool. Para eu fazer música, preciso estar careta. Para fazer shows, também não uso álcool nem droga nenhuma. A minha loucura é interior. É uma fagulha interna que me dá vontade de fazer música. Já sobre o mar... o mar inspirou Dorival Caymmi. Mas eu preciso de muito pouco para compor. Não preciso do mar nem de drogas. Só preciso da vontade de compor. Este ano, por exemplo, eu estava compondo menos, porque resolvi priorizar a estrada. Eu fiz música em janeiro e, aí, parti para os shows. Na semana passada, voltei a compor e fiz seis músicas em seis dias. Eu me sinto como um pavio aceso, um pavio que nunca apagou, desde 1970, quando tive a primeira música gravada, "Para Lennon e McCartney”.

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